Na Italia

Primeira vez em Verona

Por Carlos A. Brocchi O. Pádua

Em 1998, estive pela primeira vez em Verona, a passeio e também para fazer algo que há muito tempo queria fazer: tentar achar alguma pista da família Brocchi. Não era o que os nossos avós falavam? "A família veio de Verona". Na prefeitura, que é onde ficam as certidões na Itália, depois de driblar a má vontade do funcionário em procurar registros do século XIX, não encontrei nada. O funcionário me disse que "os imigrantes costumavam sair das pequenas cidades do interior da província de Verona", e não da Cidade de Verona em si. Quantos "comuni" (municipios) existem na Provincia de Verona? Resposta = 98! Percebi que não ia ser fácil...

Me sugeriram ir até ao Duomo (Catedral de Verona), ver os registros da Igreja. Fui até lá, e me indicaram que deveria conversar com o Padre Lorenzo, que conhecia muito sobre as famílias de Verona. O Padre Lorenzo foi muito atencioso, e trouxe um livro sobre as famílias italianas e suas origens. Perguntei pela família Brocchi, ele me disse: "Brocchi? Non é Veronese!". Realmente, ele tinha razão. A origem do sobrenome Brocchi na Itália (que não é a origem da nossa família, como veremos abaixo) não é em Verona, mas deve ser nas regiões da Lombardia ou Toscana, conforme o site: (http://www.gens.info/italia/it/turismo-viaggi-e-tradizioni-italia?cognome=brocchi), onde existem as maiores concentrações deste sobrenome.

Voltei ao Brasil de mãos vazias. Não foi desta vez. Desisti? Claro que não.

Broch, e não Brocchi ou Brochi!!!!

por Carlos A. Brocchi O. Pádua

O nome que constava da certidão era Angelo Giuseppe Broch, filho de Arturo Broch e Maria Turco, nascido na comune de Illasi, provincia de Verona em 15 de março de 1885. Era o meu bisavô, não havia dúvida, a data de nascimento era exatamente a que eu já tinha. E as suspeitas de que a família teria uma origem austríaca, que vários de nós havíamos ouvido, estava documentalmente confirmada: Broch é um sobrenome austríaco, usado por famílias da religião judaica. Hermann Broch, um dos maiores escritores modernistas do século XX, nasceu em 1886 em Viena, em uma família judaica (Wikipedia).

Eu me lembro de ter ouvido do tio Vitório (Vitório Brocchi, irmão do meu bisavô Angelo, que morava em Guaxupé) uma vez que ele visitou minha família em Caconde, quando eu tinha uns 12 anos, que o sobrenome havia sido mudado, "por causa da guerra". "Eles adotaram o nome da serva, que era Brocchi" , ele disse. A única guerra que houve na região de Verona naquela época foi a expulsão dos austríacos, que dominaram a região até 1866. Ou seja, tudo se encaixa. Não deveria ser muito confortável ter um sobrenome austríaco em uma região que havia acabado de expulsar os austríacos e se juntar à Itália unificada. A saída? Havia um sobrenome 100% italiano de sonoridade muito parecida com o original, que encaixava bem: "Brocchi".

A questão da "serva" ainda continua um mistério.

O pesquisador brasileiro na Italia

Por Carlos A. Brocchi O. Pádua

Alguns anos depois, encontrei na internet um anúncio de um Brasileiro que oferecia serviços de busca dos ancestrais italianos dos brasileiros, para entrar com os papeis de requisição da nacionalidade italiana. Gilberto, era o nome dele. Liguei para ele, e ele me disse que faria uma pesquisa por carta e por telefone com cada um dos comuni de Verona, e o preço (não me lembro quanto era) deveria ser pago antes de iniciar a pesquisa. Eu pensei que ele não fosse encontrar nada, então eu disse a ele que pagaria o dobro do valor pedido, mas somente no final, se ele encontrasse alguma coisa. Ele topou.

Me dei mal com o preço, mas fiquei super contente, porque ele achou mesmo. Algumas semanas depois ele me ligou dizendo que havia encontrado a certidão de nascimento do Angelo Giuseppe, o primeiro filho do Arthur Brocchi.

Acima: fotos da cidade de Verona

Segunda vez em Verona

Por Carlos A. Brocchi O. Pádua

Estive de volta à Itália em 2011, e obviamente dei um jeito de passar por Illasi. Esta é uma cidadezinha de 5.000 habitantes, localizada a 15 Km a leste da cidade de Verona. A cidade vive da agricultura, principalmente de uvas para a produção dos vinhos da região (dos tipos Valpolicella, Amarone e Soave). As 3 fotos à direita deste texto foram tiradas por mim nesta ocasião. No predio que aparece na primeira foto, ficam armazenados os registros de nascimento, casamento e óbito da cidade. Desta vez, tudo diferente da experiência na prefeitura de Verona. A pessoa que me atendeu foi super atenciosa, e eu encontrei muitas informações que foram prontamente copiadas em um xerox formato A3. Consegui uma cópia do registro de nascimento do Angelo Giuseppe, uma do registro de casamento de "Broch Arturo e Turco Maria" e um outro documento chamado "Situazione de Famiglia Originaria", que tem as datas e locais de nascimento de 6 filhos do casal: Angelo Giuseppe, Erminia (não a que segundo as pesquisas do Adinei Brochi nasceu no Brasil e morou no Paraná, mas outra irmã homonima que faleceu com poucos dias de vida), Silvio, Leonilda, Augusto Gaetano e Angela. Todos estes filhos nasceram em Illasi, com exceção de Silvio e Leonilda, que nasceram em Tregnago (segundo o documento). Tregnago é um outro pequeno comune que fica a poucos quilômetros ao norte de Illasi. Quanto a esta informação, um outro dado interessante é que na certidão de nascimento do Angelo, o local de residencia do Arturo consta como "Cellore", que é uma "Frazione" (distrito) da comune de Illasi. Curiosamente, Cellore fica a meio caminho entre Illasi e Tregnago, o que pode explicar os registros dos filhos nas duas comuni. Um detalhe interessante: Maria Turco assina o registro de Casamento, mas não Arturo, constando "perche illetrato", ou seja, analfabeto.

As fotos ao lado, que tirei em 2011 em Illasi, retratam:

1) Centro Comunale, Piazza Sprea

2) Chiesa Parrocchiale di Illasi

3) Ruazinha típica de Illasi